domingo, 30 de outubro de 2011

Pitty Vinagrinho




Ele apareceu - como tudo na nossa vida gateira - inesperadamente. Atravessou o asfalto, deu um miado forte e fez Jurema parar o carro apavorada. Deu de cara com um frajolinha assustado, doente, em plena noite e no meio de uma rua movimentada em Brasilia.
E, como em horas como essas a gente não pensa, só ouve o coração, ela pegou a criaturinha, colocou no carro e correu para o veterinário. A ideia talvez fosse encontrar alguma perspectiva de lar para ele, já que a clínica recebe filhotes e os coloca para adoção em uma jaulinha em frente à porta... Mas, não rolou...
O frajolinha estava cheio de fungos e sarna...
O fato é que já passava das sete da noite, véspera de feriado de Nossa Senhora Aparecida...
Levar para casa com ela era uma possibilidade fora de cogitação: quatro bebês recém-nascidos não podia ser expostos a um bichinho doente.
Pensamos, então: a gente leva ele para nossa casa hoje e amanhã a gente vê o que fazer.... kkkkkkkkkk
Hoje, mais de quinze dias depois do episódio, Pitty está aqui, já tomou banho, cresceu e ganhou um pesinho...
Já voltou ao veterinário, tomou a segunda dose da injeção para os fungos, está sendo tratado com solução de água com vinagre e pomadinha homeopática. Pena que ainda não pode brincar com os outros... O risco de contaminação ainda existe, mas ele brinca sozinho mesmo, apesar do espaço reduzido do box do banheiro - único lugar seguro que dispomos na nossa casa para ele.
Tentamos oferecer o máximo de conforto: cobertozinho, brinquedos, tapetinho para arranhar, bastante comidinha, água e, claro, carinho...
Em breve, ele estará bem e vai poder se divertir como todos os outros gatinhos saudáveis.

Em breve vai ser vacinado, vermifugado, castrado e se Deus quiser, vai encontrar um lar definitivo... E não há dúvidas de que levará muita felicidade para onde quer que vá...

Ah! O apelido de Pitty Vinagrinho já deu para deduzir, né? Ele adora quando eu passo o algodãozinho molhado na sua barriguinha... kkkkkkkkkk


Shanti, a paz felina



Mas, engana-se quem pensou que a nossa aventura domingueira havia chegado ao fim...
Quando já nos preparávamos para ir embora, já à tarde, surge o filhote do qual Jurema tanto falava... Filhote que, aliás, nunca tínhamos visto na Embrapa até poucos dias atrás.
E, ao contrário do esforço que foi necessário para cuidar dos bebezinhos - esforço físico e até intelectual para driblar a inteligência felina - nesse caso bastou chamar... O gatinho - que descobrimos depois ser uma gatinha - veio para o colo sem qualquer dificuldade. Linda, doce... Tigradinha como a Manu e a Nina...
Com a gatoeira vazia, nem pensamos duas vezes: a pusemos dentro e agora faz parte da nossa comunidade de hóspedes doméstica.
De uma tranquilidade impressionante, ela sequer mia ou rejeita aproximação... É como se tivesse o hábito de estar com gente. Já recebeu uma prévia de banho com uma mistura bactericida de água com vinagre e FrontLine para as eventuais pulguinhas... E neste momento, está no quarto, descansando e de barriguinha cheia.

Seu nome? Shanti...
Paz, em sânscrito...

As surpresas nossas de cada dia...

Hoje, domingo, foi mais um daqueles dias em que a gente fica simplesmente atônito com as coincidências e as "peças" que esse nosso dia a dia no Projeto Linda reservam para a gente. Desde ontem, estávamos nos planejando para resgatar o último filhote da ninhada do bueiro. Três estão a salvo há mais de um mês aqui em casa, mas ainda falta um que, apesar de todas as tentativas, continua morando no mesmo lugar, exposto ao frio e agora ao período de chuvas... Mas, como não foi possível, transferimos a empreitada para hoje, um dia tranquilo, sem qualquer movimento de empregados.
Pois bem, saímos dispostos a tudo e munidos da paciência necessária que esse tipo de trabalho exige. Chegamos na Embrapa por volta das 10h. Paulinho e eu começamos então a organizar a estratégia para atrair o filhote frajola, enquanto Jurema preparava em casa um pedaço de carne que serviria como uma isca diferente dos tradicionais sachês de Wiska's...
Caminhávamos pelo estacionamento, já com o papelão que usaríamos para encurralar o gatinho, quando, nem sei por quê - em um relance - vi dentro de outro bueiro, bem abaixo dos nossos pés uma ninhada. Quatro!!!! Quatro minúsculos filhotes deitados, tentando se esquentar em cima de um monte de folhas úmidas pela tempestade da noite anterior...
São Francisco definitivamente nos colocou ali naquela hora. Não havia dúvidas! Afinal, que razão teríamos para passar exatamente em cima daquele bueiro, se o nosso alvo não era aquele? Por que eu estaria caminhando e olhando para o chão e com que clareza consegui enxergar aquelas criaturinhas pretas dentro de um lugar escuro??? Nâo importa! O fato estava sendo apresentado a nós e era preciso fazer alguma coisa...
O susto: no meio da sujeira e da umidade, os bebês tentavam se esquentar


Paulinho - nosso mentor das atitudes práticas - tomou à frente e saímos em busca de alternativas para abrir aquela pesada tampa de ferro o mais rápido possível, afinal quanto mais tempo permanecessem sobre o chão úmido menores seriam suas chances de sobrevivência.
Encontramos o Roberto, um dos superparceiros do Projeto Linda, empregado da Manutenção, que imediatamente se dispôs a encontrar algo que pudesse funcionar como uma alavanca para suspender a grade. No final das contas, a força dos braços foi a que acabou funcionando mesmo...

Nem a alavanca de ferro aguentou a grade - o jeito foi tirar no braço...


Filhotes são retirados do bueiro molhado


Mas, o desafio estava apenas começando, porque a mãe apareceu e, claro, reagiu a nossa presença e à ameaça que representávamos aos seus filhos. Com jeitinho, ela acabou sendo isolada em um duto do bueiro, enquanto cada bebê era retirado um a um e posto dentro de uma caixa de papelão seca e quentinha.

E depois? O que fazer? Levar os bebês embora e deixá-los privados da amamentação? Não! Na última ninhada resgatada tivemos que fazer isso, mas temos consciência de que era a única maneira de salvar a vida dos filhotes expostos a alta temperatura do motor do ar condicionaldo...

Resolvemos então usar a estratégia de atrair a mãe usando os filhotes para a gatoeira, com o reforço da carne que Jurema tinha trazido de casa... Resumo da ópera: depois de muita armação, muito vai para lá e vem para cá, a gata preta deu um balão em todo mundo. Comeu a carne e sequer fez menção de entrar na gatoeira, que, aliás, desarmou vazia.

A meticulosa estratégia de captura da mãe
A esperança: achamos que a pretinha fosse entrar na gatoeira

A esperteza felina: gatinha-mãe comeu e foi embora


Foram várias e várias tentativas. Foram horas de paciência e observação. E nada!
A manhã parecia estar sendo vã, afinal de contas, o frajolinha que queríamos pegar sequer tinha aparecido...

O jeito então seria criar um ambiente seguro em que os bebezinhos pudessem ficar com a mãe, mas longe da chuva, protegidos. E o bueiro seria o melhor lugar, só que precisava ser adaptado. Paulinho, então, conseguiu aproveitar pedaços de madeira, restos da reforma da sede da seção sindical do Sinpaf, e fez uma caixa que serviria de suporte para a caixa de papelão, onde ficariam os filhotes. E nessa empreitada de marcenaria até o Parker, presidente da regional do Sinpaf, deu uma mãozinha.

A obra de marcenaria para proteger os filhotes da chuva

Caixa pronta, foi a hora de arrumar tudo dentro do bueiro - sob a supervisão da gatinha-mãe. Pedaços de plástico, tijolos, madeiras, enfim, valia qualquer coisa para deixar o lugar seguro em caso de chuva forte.
Como infelizmente não foi possível resgatar a família inteira - mãe e bebês - essa acabou sendo a melhor alternativa...
A caixa de mandeira foi colocada dentro do bueiro para proteger a de papelão
A carinha de um dos bebezinhos dentro da caixa
Daqui para a frente, é monitorar e torcer para que a chuva dê uma trégua e, o mais importante, que a gatinha-mãe aceite a nossa colaboração e não mude as criancinhas de lugar...
Você, hein, São Francisco?! 
kkkkkkkkkkkk