quinta-feira, 31 de março de 2011

Controle populacional

Inspirados em iniciativas como a da ong Salvando Vidas Protetores Independentes e da colega Adélia, que também trabalha com felinos na nossa empresa, nos convencemos de que só o controle populacional poderia oferecer dignidade aos animais. 
Se não têm o que comer, estão expostos às adversidades, a doenças, ao frio, à chuva e, pior, à intolerância de quem não gosta deles, precisavam de defesa. 
E uma forma - talvez a única - era buscar adoção para os filhotes e, por meio da castração dos adultos, manter a população sob controle. 
A iniciativa - a princípio não compreendida - se transformou então em projeto escrito, apresentado à chefia da Unidade e depois  ao setor responsável pela manutenção da Sede da empresa.  Encontramos pessoas sensíveis e dispostas a colaborar com o nosso reduzido grupo voluntário. 
Compramos uma gatoeira - também a única forma de resgatar os animais -, nos articulamos com a Salvando Vidas, que, aliás, foi fundamental na obtenção de vagas para castração a preços simbólicos na Empório dos Bichos (302 Sul). Depois, ganhamos como parceiro o veterinário Caetano, da Dogue Tique (412 Sul), que também tem sido fundamental no trabalho.  
Para levantar recursos, rifamos uma bolsa doada por uma colega do Comitê Local de Gestão Ambiental. Foram arrecadados R$ 310, 00, com os quais castramos e vacinamos vários animais. 
A ração que os tem alimentado é resultado de doação do próprio grupo, ou seja, das duas voluntárias. 


Tico e  Teco (adotados) foram entregues ao novo dono castrados e vacinados

Gatinho adulto, castrado voltou ao ambiente

Clínica que colabora com o Projeto Linda

Gatinho macho adulto teve que retornar ao ambiente

Gatinho também adulto, solto novamente no local onde mora


 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Felizes os adotados...

Filhotes adotados...
Esse é o caminho que temos tentado. 
Colegas da Embrapa são exemplos de sensibilidade e compreensão de que os animais também merecem respeito e um lugar digno para viver. 
Mendiguinhazinha, feliz da vida na casa da Jurema, os filhotes Tico e Teco adotados pelo Wellington, e o Tapioca, da Kátia e do Paulinho,  representam mostras de que não é preciso pagar caro por um animalzinho para ter retribuição de carinho. 
De raça ou vira-latinhas são todos iguais. 
Com atenção e amor, eles se transformam. 
Deixam a magreza característica das ruas, ganham pelagem brilhante, saúde perfeita e, claro, acabam ficando deliciosamente mimados...
 
Mendiguinhazinha, da Jurema

Jonnie e Linda, do George e da Isabel (já crescidinhos)


Tico e Teco, do Wellington

Tapioca (irmão da Linda que morreu), da Kátia e do Paulinho

Depois do Tapioca...

Primeiro, Linda. 
Depois, Tapioca...
Mas, sabe-se lá quantos outros estavam perambulando por ali... 
Definitivamente, o controle populacional em animais adultos e a adoção de filhotes era a única alternativa. 
E aos poucos, fomos descobrindo: há inúmeras iniciativas pontuais semelhantes por toda a cidade, orientadas por ongs e por pessoas (cidadãos como nós). 
Gatos não têm fronteiras, mas se fixam onde encontram comida e segurança.
Cabe a nós, apenas, a iniciativa de tentar oferecer a eles dignidade de sobrevivência. 

O que veio depois...

Depois da Linda, a inquietação aumentou. Não demorou muito - cerca de quinze dias depois - e mais uma notícia: havia outro filhote, branco, com o mesmo problema. Já sabíamos: era o tal prolapso retal...
Outro poderia morrer se nada fosse feito a tempo. Felizmente, o gatinho parecia estar em condições ligeiramente melhores. Era visto com frequência rondando a copa da Embrapa Informação Tecnológica em busca de comida, mas chegar perto era praticamente impossível.. Gatos nasceram livres... Não são como os cachorros...
Procuramos, então, orientação na ong Salvando Vidas Protetores Independentes. Uma das voluntárias, a Zezé, da Agência Nacional de Energia Elétrica, que tem experiência em programas de controle populacional de felinos na empresa dela,  foi fundamental nessa fase. O jeito era conseguir uma gatoeira para resgatar a criaturinha.  Era a única forma de evitar que novas Lindas morressem. 
Bem, assim fizemos, afinal outro gatinho branco estava à espera de ajuda. 
Um gatinho branco que hoje está adotado e se chama Tapioca. Resgatado, recebeu atendimento, foi operado e levado para nossa casa. Fraquinho, durante uma madrugada inteira, definhou visivelmente...Nem se mexia mais... Como a Linda, irmã dele, achamos que não sobreviveria... 
Mas, milagres acontecem e foi o fato de um milagre ter acontecido, que hoje persistimos na luta pela salvação de outros...


 

Como tudo começou

O Projeto Linda começou de um jeito que parecia casual...
Mas, no fundo, não devia ser, porque as coisas foram acontecendo em uma sucessão de fatos inevitavelmente incontroláveis.
A primeira gatinha, a Linda - batizada assim pela delicadeza, pela doçura - foi como o sinal de alerta sobre a situação dos outros felinos que vivem nas imediações da Embrapa.
Um dia de novembro de 2010, o seu Ivan, que trabalha na Gráfica, avisou que havia um gatinho doente - segundo ele, com hemorróida - no galpão que funciona como anexo do almoxarifado.
Fomos atrás imediatamente... Nenhum esforço precisou ser feito... Ela estava completamente vulnerável, fraquinha...
Ribamar, um dos nossos parceiros mais queridos desde o início, foi quem resgatou a criaturinha.
Resumindo: foi levada ao Hospital Veterinário da Universidade de Brasília e o diagnóstico foi prolapso retal, giardíase em estágio avançado, contaminação  por produtos químicos. Mas, apesar de tudo, os veterinários - e nós - acreditamos que sobreviveria. 
Sua luta pela vida durou apenas três dias. 
Foi uma dor grande... mas, hoje entendemos que esse foi o papel dela...  
A imagem que temos da Linda foi feita meses antes... Em junho, quando nasceu, junto com os irmãos... E é essa foto que usamos no Quem somos.  

A partir daí, as coisas não pararam de acontecer. 
E até quem diz que não gosta de gato, inexplicavelmente, nos procura quando tem notícias de algum. Coisas do destino...
O fato é que estamos felizes, principalmente pelas parcerias que temos conquistado em nome da vida... 
Pessoas-chave, chefias de setores essenciais ao nosso trabalho dentro da Empresa, têm nos apoiado e contribuído para que consigamos buscar a harmonia na convivência entre felinos e humanos...  
 

Linda, com o Tapioca (hoje adotado) e mais um irmãozinho, poucos dias depois do nascimento








sexta-feira, 18 de março de 2011

ODE AO GATO


Uma das mais lindas formas de expressão da existência felina...

ODE AO GATO
(Artur da Távola)


Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.
Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.
Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer.
Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.
Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali". Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.
Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.
O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.
O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."
 

Boas-vindas

Nesta primeira postagem no nosso blog do Projeto Linda, nossas boas-vindas a todas as pessoas de bem e do bem que queiram conhecer mais uma iniciativa em defesa dos animais, em especial desses seres mágicos, porém tão incompreendidos pela grande maioria das pessoas, que são os gatos. 
Com a sua doce superioridade, independência e necessidade incondicional de liberdade, costumam injustamente ser comparados aos (não menos doces) cães, que, pela personalidade de quase subserviência aos seres humanos, acabam contribuindo com a ideia de que as relações devem ser pautadas na autoridade e no controle, e não só na fidelidade e no amor sincero. 
Pensamos neste espaço como uma forma de contar o que já fizemos, o que estamos fazendo e o que pretendemos fazer. 
Aqui, vamos mostrar as carinhas dos nossos companheiros de jornada (como diria Rita Lee) e prestar contas aos nossos parceiros e colaboradores que de alguma forma imprimem a sua marca nessa história, seja adotando um filhote, seja doando um pacote de ração ou contribuindo financeiramente, seja nos chamando nas horas de necessidade para resgatar um gatinho, seja nos oferecendo uma palavra de estímulo ou um sorriso sem críticas. 
Também vamos contar como tudo começou e como temos conquistado cada vez mais elos nesta corrente. 
E como uma das imagens mais emblemáticas dessa nossa saga, para começar a foto de dois irmãozinhos, resgatados no dia 30 de dezembro de 2010, em uma tarde chuvosa, tentando se abrigar sob as plantas no estacionamento da Embrapa. 
Hoje, três meses depois, já adotados, deixaram de ser filhotes abandonados. São Johnny e Linda (também em homenagem à gatinha-inspiração do nosso projeto). George e Isabel, muito obrigada por tê-los acolhido! 


Johnny e Linda, minutos após o resgate